Joao Vergílio Cuter Gallerani

A negação, no Tractatus, não pode ser tratada como um conceito, tal como acontecia em Frege e em Russell. Se isto acontecesse, p e ~~p deveriam ter sentidos composicionalmente diferentes. A negação não pode se resumir a uma relação lógica entre dois enunciados, pois ~p deve ser construída a partir de p, e não o contrário. A negação é algo que devemos fazer para obter uma proposição a partir de outra (5.23). Ela é produto de uma ação, mas esta ação não pode ser natural (ou meramente humana). Ela deve ser atemporal.AbstractNegation, in the Tractatus, cannot be treated as a concept, as in Frege and Russell. If this were to happen, p and ~~p should have compositionally different meanings. Negation cannot be taken as a logical relationship between two propositions, since ~p must be constructed from p, not the other way round. Negation is something we must do to get one proposition from another (5.23). It is the product of anaction, but this action cannot be natural (or merely human). It must be atemporal.

Este artigo é uma tentativa de dar conta dos últimos parágrafos do Tractatus onde Wittgenstein afirma que nenhuma sentença do livro faz qualquer sentido. O leitor é convidado a aceitar isso como uma consequência de se compreender o próprio autor, o que é claramente paradoxal. Eu tento mostrar aqui que isto é apenas aparentemente paradoxal, e que devemos reconhecer uma noção vaga e inarticulada de “jogo de linguagem” como uma espécie de pano de fundo para o Tractatus como um todo. Os jogos de linguagem não precisam fazer sentido em termos tractarianos para que sejam jogados, e possuem efeitos de muitos tipos diferentes. Um deles, por exemplo, poderia perfeitamente ser aquele de permanecer em silêncio sobre o que não se pode dizer, e analisar a linguagem de acordo com certas linhas gerais de conduta.

Der gegenseitige Ausschluß der Farben ist nicht das Problem, worin die Aufgabe des logischen Atomismus Wittgensteins Tractatus Logico-Philosophicus wurzelt. Die im Tractatus durchgeführte Analyse der Arithmetik, führte zur Unanwendbarkeit der Zahlen auf die Messungszusammenhänge. Diese Analyse basierte auf einer Lösung, die in den Grundlagen der Arithmetik von Frege abgelehnt worden war. In seinem „Vortrag über die logische Form" zeigt Wittgenstein,daß die Zahlen nicht im Sinne der wiederholten Quantifizierungen definiert werden können. Die bereits in der Grundlage der Sprache eingeführten Zahlen zwingen zur Aufgabe der logischen Unabhängigkeit der Elementarsätze.

Wittgenstein objective is to show that Russell’s Theory of Types is condemned to self dissolution. It can only be presented through statements which violate the very rules the theory intends to impinge on the whole of language. On the other hand, if one takes it to be merely a system of rules regarding the usage of signs, it becomes completely arbitrary. The theory of Types presents as an invention something which, from the Tractatus’ point of view, could only be a discovery: the essential structure of reality which is supposed to be presented by language. And then we arrive in the Tractatus at the intermediary solution of an “ineffable essence”. The problem gets even more tangled when the Tractatus comes out unworkable and the idea of reality’s essential structure is jeopardized. Towards the end of the paper I try to offer a Wittgenstein type of inquiry on what is left of the concept of necessity once we abandon the idea that reality is endowed with an essential structure which is supposed to be presented by language.

A relação nome–objeto, no Tractatus, exige a atuação de uma vontade. Um sujeito deve “escolher” qual objeto associar a um nome dado. Essa escolha não pode ser descrita – não pode ser um fato no interior do mundo. Do mesmo modo, o sujeito não pode ser um objeto, nem um estado de coisas. Ele deve permanecer fora do mundo, em seus limites lógicos. Ele está conectado ao “quê”, mas não ao “como” – aos objetos, e não aos fatos. É por isso que o sujeito lógico é o portador do ”elemento ético”, e contempla o mundo sub specie aeterni.

It is easy to show that, in the Tractatus, color ascriptions cannot be elementary propositions. But it is not so easy to determine which kind of analysis could be made of judgments of perception like "a is red". Wittgenstein gives us a kind of hint on aphorism 6.3751. He asks the reader to keep in mind the way we deal with the mutual exclusion of colors within the realm of physics. Even so, it is difficult to determine what exactly he is trying to say. I offer an interpretation that links the color exclusion problem with the treatment given to numbers and the notion of "series of forms" (Formenreihe). Some passages of the Philosophische Bemerkungen are used to bring some support to this line of thought. É fácil mostrar que, no Tractatus, atribuições de cor não podem ser proposições elementares. Mas já não é tão fácil determinar que tipo de análise poderia ser feita de juízos de percepção do tipo “a é vermelho”. Wittgenstein nos dá uma indicação vaga no aforismo 6.3751. Ele pede que o leitor tenha em mente o modo pelo qual lidamos com a exclusão das cores no campo da física. Mesmo assim, é difícil determinar o que exatamente ele estava tentando dizer ali. Ofereço uma interpretação do aforismo que associa o problema da exclusão mútua das cores ao tratamento dado aos números e à noção de “série de formas” (Formenreihe). Algumas passagens das Philosophische Bemerkungen são usadas em apoio a esta linha interpretativa.

Há pelo menos três concepções diferentes de verdade no Tractatus Logico-Philosophicus. A primeira delas é dada pela tautologia, essa proposição única que pode ser diferentemente obtida aplicando-se operações de verdade às proposições elementares de tal modo que todas as possibilidades de desacordo com a realidade sejam finalmente canceladas. A segunda é dada pelas propriedades internas que podem ser previstas antes que a análise efetiva de nossa linguagem esteja completamente feita. A terceira é dada pelas propriedades internas que apenas a análise lógica pode revelar. Se aceitarmos a interpretação do ?sujeito metafísico? que o autor vem propondo numa série de artigos, então, poderíamos admitir um quarto tipo de necessidade, que tem surpreendentes pontos de contacto com o que poderíamos chamar de ?verdade por convenção?

Les Remarques philosophiques sont la première tentative de mettre en oeuvre le programme qui découle de l’échec du projet du Tractatus Logico-Philosophicus. Le noyau de ce programme est donné par l’abandon de l’analyse des nombres avancée dans le Tractatus. Wittgenstein se rend compte que les nombres doivent se trouver à la base même du langage, dans la structure des propositions élémentaires. En même temps, il se rend compte qu’il est impossible de fournir la logique sousjacente au langage avant d’avoir procédé à l’analyse. Le projet d’une investigation logique des phénomènes s’imposait, donc, même après l’abandon de l’idée d’un langage phénoménologique. The Philosophical Remarks is a first attempt at pursuing the philosophical agenda determined by the failure of the Tractarian project. The central point of this agenda is the abandonment of the analysis of number that had been given in the Tractatus. Wittgenstein realizes that numbers should be brought back to the basis of language, as part of the structure of the elementary propositions themselves. At the same time, he realizes that it is impossible to give the logic underlying our language before the process of logical analysis is carried out. He undertakes the project of a logical investigation of phenomena even after giving up the idea of a phenomenological language.

Tenta-se especificar uma noção de “limite da linguagem” compatível com a filosofia madura de Wittgenstein. Essa noção é relacionada ao caráter necessariamente público dos critérios. Várias questões são feitas, então, quanto à possível existência de um objeto ou fato cuja identificação dependesse essencialmente de critérios privados. Essas questões revelam-se patentes contrassensos, e esse resultado mostra-se ontologicamente neutro. Assim, as questões filosóficas desaparecem, ao passo que o horizonte místico se mantém

Les Remarques philosophiques sont la première tentative de mettre en oeuvre le programme qui découle de l’échec du projet du Tractatus Logico-Philosophicus. Le noyau de ce programme est donné par l’abandon de l’analyse des nombres avancée dans le Tractatus. Wittgenstein se rend compte que les nombres doivent se trouver à la base même du langage, dans la structure des propositions élémentaires. En même temps, il se rend compte qu’il est impossible de fournir la logique sousjacente au langage avant d’avoir procédé à l’analyse. Le projet d’une investigation logique des phénomènes s’imposait, donc, même après l’abandon de l’idée d’un langage phénoménologique. The Philosophical Remarks is a first attempt at pursuing the philosophical agenda determined by the failure of the Tractarian project. The central point of this agenda is the abandonment of the analysis of number that had been given in the Tractatus. Wittgenstein realizes that numbers should be brought back to the basis of language, as part of the structure of the elementary propositions themselves. At the same time, he realizes that it is impossible to give the logic underlying our language before the process of logical analysis is carried out. He undertakes the project of a logical investigation of phenomena even after giving up the idea of a phenomenological language.

After the works of Jaako Hintikka, David Stern and, more recently, Denis Perrin, the idea that there is a wittgensteinian reflection upon the time and that it is at the origin of the abandonment of the project of a phenomenological language is nothing surprising, but we cannot consider it established yet. It seems to me that an important element in this debate is in chapter VII of the Philosophical Remarks : indeed, we find there the very first sustained discussion on the possibility of a phenomenological language —a discussion obviously centred on the question of time. Without aiming to propose an “alternative” reading of Wittgenstein’ reflections on time and the phenomenological language, I would like to bring to light the importance of this chapter for this problem and also try to show that the interpretation key must be looked for in a reductio ad absurdum whose base is the impossibility to measure time.