Juan Adolfo Bonaccini

A relação de Hegel com o ceticismo está longe de ser clara. A par de existirem alguns poucos trabalhos sobre o assunto, e de Hegel abordar o tema em várias obras, não está bem determinado se Hegel possui uma teoria global sobre o ceticismo ou se apenas é um mero crítico de posturas céticas clássicas na antiguidade e na modernidade. Em que pese Hegel ser um crítico ferrenho do ceticismo moderno (por ex., em textos como Sobre a relação do Ceticismo com a Filosofia, as Preleções sobre História da Filosofia e a Enciclopédia das Ciências Filosóficas), a sua crítica não se restringe a esta ou aquela forma de ceticismo, mas se funda numa teoria geral do saber que compreende o ceticismo como uma atividade negativa constitutiva da consciência e pretende refutá-lo enquanto ele reifica essa negatividade numa pretensão de verdade. A refutação consiste na descrição do modo como o ceticismo filosófico seria um saber parcial, e por isso auto-refutativo. O presente trabalho pretende sugerir que isto ocorre, sobretudo, na Fenomenologia do Espírito, cujo caráter “fenomenológico” propriamente dito não parece poder ser bem compreendido, sem tomar como pano de fundo o problema do ceticismo. PALAVRAS-CHAVE – Hegel. Fenomenologia. Ceticismo. Refutação. ABSTRACT Hegel’s position towards skepticism is far from being clear. On the one hand, there are just a few studies on the subject and Hegel faces the issue in several of his writings; on the other hand, it is not established yet if Hegel has a global theory about skepticism or if he is just a critic of Ancient and Modern skeptical attitudes. In spite of Hegel being known as a sharp critic of Modern skepticism (for example, in works like On the relationship of skepticism to philosophy, Lectures on the history of philosophy and Encyclopedia of philosophical sciences), his criticism is not restricted to specific forms of skepticism, but it is rather founded upon a general theory of knowledge which takes skepticism as a negative activity constitutive of our natural consciousness and intends to refute the skeptical attitude as that negative activity of self-consciousness is reified and turned out into a special kind of truth claim. Hegel’s refutation consists in describing the way philosophical skepticism would be understood as a partial and self-defeating attitude of knowing. The present study suggests that this procedure is to be seen above all in the Phenomenology of Mind, whose “phenomenological” character cannot be rightly understood without taking properly into account the problem of skepticism. KEY WORDS: Hegel. Phenomenology. Skepticism. Refutation

A estratégia de Kant na Refutação do Idealismo consiste em demonstrar a tese de que existem objetos fora da consciência com base no argumento de que ter consciência de meus estados de consciência pressupõe como condição necessária ter consciência de objetos externos no espaço. O meu intuito consiste em mostrar que essa estratégia de Kant não pode funcionar contra Descartes , porque ou ela pressupõe resultados anteriores que o cético já pôs em questão com a própria objeção que Kant quer responder, ou apela a distinções de caráter empírico ou metafísico que o cético não pode nem deve aceitar. Assim mostramos em primeiro lugar que o estatuto do permanente requerido pela prova de Kant é insustentável para a filosofia crítica. A seguir, demonstramos que a prova só poderia servir para provar, na melhor das hipóteses, que este permanente sou eu, que penso, e tenho estados de consciência, porque enquanto penso e tenho a consciência de meus estados sei que sou uma substância pensante, que é o justo o que Descartes defendia e Kant havia criticado nos Paralogismos . Depois examinamos o problema à luz da obscura teoria kantiana do sentido interno e demonstramos que a refutação fracassa em resolver o problema do mundo externo porque Kant não consegue provar ao cético cartesiano, nem ao berkeleyano que pode sair das representações. Defendemos que para a empresa de Kant é vital sair delas, mas o resultado implica oscilar entre a pressuposição da experiência externa objetiva, que está em suspenso pela objeção do cético, o fenomenalismo, e a necessária queda no realismo transcendental. Eis a aporia que Kant enfrenta titanicamente na Refutação do Idealismo: precisa romper com o fenomenalismo do Idealismo Transcendental para que suas teses façam sentido. Mas como isso significa o fim do Idealismo Transcendental, vemos Kant oscilando ambiguamente entre realismo transcendental e solipsismo, ou entre apelar à experiência ou pressupor que objetos são dados; misturando uma teoria causal da percepção comprometida tacitamente com uma epistemologia correspondencialista a uma ontologia fenomenalista comprometida com uma epistemologia coerencialista

resumo Neste trabalho é analisada a estratégia da exposição de Fichte em seu escrito Sobre o conceito da Doutrina da Ciência e interpretada como indo de encontro a um determinado tipo do ceticismo moderno. Todavia, ao contrário da leitura proposta por Rockmore, que sustenta ser possível considerar toda a epistemologia fichteana dessa época como uma linha de argumentação de cunho pragmático e antifundacionista, defende-se a tese de que Fichte está comprometido desde o início com a tarefa de uma fundamentação última de toda ciência a partir de um primeiro princípio. Esta fundamentação seria levada a cabo mediante uma demonstração indireta que pretende refutar de modo muito original objeções levantadas por Maimon, por Schulze e outros contra a filosofia transcendental de Kant. O mero fato de que Fichte não considerasse este último princípio como passível de demonstração direta não é suficiente para tachar sua estratégia de pragmática. palavras-chave Fichte; Filosofia Transcendental; Pragmatismo; Ceticismo; Fundacionismo

Contra el privilegio de la problemática del conocimiento en la interpretación de la Crítica de la Razón Pura, el autor destaca la problemática de la metafisica como motivo principal de su concepción. La metafisica produce antinomias, y si la razón pura se atiene solamente al principio de razón suficiente, incurre en un conflicto de leyes. Según esta lectura, la dialéctica trascendental, y dentro de ésta la parte de las antinomias, representa el núcleo de la preocupación kantiana por resolver en la revisión de la metafzsica el destino de la filosofia.

La mayoría de los lectores de la primera Crítica casi siempre interpretan la Deducción trascendental de las categorías (DTC) como una respuesta al problema de la causalidad planteado por Hume. Pero no todos parecen haberse dado cuenta de que la DTC también comporta uma réplica al desafio de Hume a la noción de identidad personal. Para aclarar este punto el autor sugiere, primero, que el ataque de Hume no se dirige a Locke, sino más bien a la supuesta substancialidad del sujeto cartesiano. A continuación, sostiene que Kant redefine la identidad del sujeto en términos lógicos y reconstruye su argumento en la primera parte de la DTC como una respuesta al desafio humeano. Por fin, presenta y discute, en términos generales, la concepción kantiana de la unidad y de la identidad lógicas de la autoconciencia.

La mayoría de los lectores de la primera Crítica casi siempre interpretan la Deducción trascendental de las categorías (DTC) como una respuesta al problema de la causalidad planteado por Hume. Pero no todos parecen haberse dado cuenta de que la DTC también comporta uma réplica al desafio de Hume a la noción de identidad personal. Para aclarar este punto el autor sugiere, primero, que el ataque de Hume no se dirige a Locke, sino más bien a la supuesta substancialidad del sujeto cartesiano. A continuación, sostiene que Kant redefine la identidad del sujeto en términos lógicos y reconstruye su argumento en la primera parte de la DTC como una respuesta al desafio humeano. Por fin, presenta y discute, en términos generales, la concepción kantiana de la unidad y de la identidad lógicas de la autoconciencia.

  conceito de fenomeno (Erscheinung) cumpre um papel fundamental na filosofia de Kant. Na Critica da Razáo Pura', constitui a chave que abre todas as portas da   filosofia transcendental e as fecha à metafisica tradicional. Isto parece ser urn ponto pacifico para os kantianos e para muitos outros o que, contudo, tem gerado urna ampla polemica é o estatuto de legitimidade deste conceito, sobretudo em funçao de suas implicações. 0 presente texto pretende elucidar algumas dessas implicações à luz dos argumentos de Kant e de objeções que foram levantadas por filosofos e interpretes desde a epoca do Idealismo a Alemáo .Meu intuito é o de evidenciar urn problema. Sugiro que o conceito implica urn paradoxo, mas que este nada se deve imputar a um erro de Kant, e sim a uma dificuldade essencial a todo discurso teorico do ponto de vista de sua fundamentaçáo

o conceito de Idealismo Transcendental e aplicado por Kant para diferenciar 0 conceito tentando mostrar que ele e inseparavel do conceito de fenemeno e do polemico conceito da coisa em-st. Feito isso, evidencia algumas das dificuldades que 0 referido conceito coloca a partir da analise de algumas objecoes "classicas'' levantadas pelo Idealismo Alernao. Palavras-chave: Kant -Idealismo Transcendental -Fenorneno, Coisa Em-si. o empreendimento da Critica da razao Pura dos sistemas idealistas tradicionais. 0 autor analisa

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A famous scholar remembered recently an old and well known thesis, which is generally accepted by Kantians and historians of philosophy. According to it Kant, as was of use at his time, did not teach his own philosophy. This is not the evidence, however, when we examine the Dohna-Wundlacken Lectures on Metaphysics, which Kant presented in the 1792-93 winter semester. If we take as base for analysis the text of the course transcribed by Count Heinrich L. A. zu Dohna-Wundlacken, a sharp and young Student, and Baumgarten’s Metaphysica, we will see that the situation is totally different. In order to make it clear, we discuss first Kant’s criticism to the Wolffian concept of Metaphysics and present some aspects of the new concept of Metaphysics proposed by Kant in the abovementioned text. Second, we point out how Kant did make use of theses and arguments already defended in the first Critique, thus dislocating the focus of his examination from an apparent commentary to Baumgarten’s text to the exposition of his own philosophy. Finally, we try to evaluate to what extent Kant’s concept of Metaphysics defended in this Lectures do remain faithful to the teachings of the critical philosophy.

In the present paper is analyzed the relationship between Kant's theses concerning unknowability and non-spatiotemporality of things in themselves. First of all, it is argued that even by taking for granted that the Unknowability Thesis does not contradict the Non-Spatiotemporality Thesis, because the former can be thought as a consequence of the latter, this is not enough to avoid another problem, namely, that the Non-Spatiotemporality Thesis is not sufficient to abolish the possibility of thinking consistently of space and time as empirical or material. It is also remembered that this point has already been partially envisaged for the first time by H.A. Pistorius and raised as the objection of the "third possibility" or "neglected alternative." Furthermore, it is maintained that although Kant tries to eliminate this possibility in the Metaphysical Expositions of Space and Time, by attempting to prove that space and time are only formal necessary conditions of sensibility, he cannot do it successfully. Hereafter it is argued that his circumstance is not due to the above objection itself, but to another difficulty that can only be grasped through the analysis of Kant's main argument in the Metaphysical Expositions of Transcendental Aesthetic. Ultimately, in order to show this difficulty, it is argued first that insofar as the Non-spatiotemporality Thesis supposes the validity of the Singularity Thesis, and this supposes the validity of the Apriority Thesis, the whole force of proof reposes on this latter. Secondly, it is shown that, despite his effort, Kant could not justify satisfactorily his claim to the formal apriority of space and time because of his failure to demonstrate necessarily the Apriority Thesis.

The difficulty some interpreters find to place Kant´s writings on Anthropology within his system is well known. There are those who understand the Anthropology as a transcendental science, those who think it is a mere non-systematic and empirical “science”, and even a rapsodic chaos of information on diverse and disconnected subjects; finally, there are also those who consider the Anthropology as the applied moral philosophy Kant had promised, either in the preface of the Groundwork, or in the Metaphysics of Morals. On the one hand, Kant had already referred the question for human nature to the Anthropology in the Critique of the pure reason. Nothing appears to be more natural, therefore, than considering the Anthropology as the science of human nature. On the other hand, the problem consists in determining whether and to what extent the critical philosophy can approach the concept of “human nature”. A good deal of difficulty comes from lack of clarity and unity with regard to its subject proper. For even if we accept that it must deal with human nature, it is not that clear in which sense human nature is to be understood from the point of view of “pragmatic anthropology”, nor how human being must be focused on in such an enquiry, whether empirically or not. My aim here is to explain in which sense pragmatic anthropology can be understood as science of human nature. I defend that this is possible out of a certain principle of analogy. Thus, in the first part I briefly mention some positions of the interpreters concerning the place and the status of the Anthropology in the critical system and identify a confusion sometimes is made between the place of the Anthropology within the system and its scientifically problematic status. In the second part, based upon Kant´s Lectures on Anthropology I argue that historically and conceptually Kant´s Anthropology endeavors to conciliate two different interests, namely, to criticize and reformulate the empirical psychology of the Wolfians and to observe and describe human being individually and collectivelly in order to offer a notion of human nature which the concepts and principles of its moral theory and its theory of the metaphysical knowledge can in concrete be applied to. In the third part, I defend that Anthropology considered as a cosmological knowledge reformulates the Humean project of an empirical science of human nature as a nearly–empirical science, since it involves as much observation and experience as well as application principles. My central thesis is here that the empirical scientific character of antropological knowledge is guaranteed by the application of the principle of analogy: what a human being knows intuitively from of himself as a set of first-order predicates functions as starting point for his reflection, out of which he is able to deduce consequences by analogy between himself and other human beings, as a set of second-order predicates he applies extensively to others. Thus, the Anthropology could appeal to observation and experience without being arbitrary: my knowledge of myself would be mediated by the knowledge of the others to the extent that I think myself in analogy with other beings that are given to me intuitively; conversely, my knowledge of the others would be mediated at the same time by the knowledge I have from myself, my body, as well as my mental and moral faculties. My knowledge of human being from the cosmopolitan point of view, as citizen of the world, then, would be thought and conceived of in analogy with my faculties and habits, with the moral, psychological structure and social politics of my world, with the uses and customs of my community. If this is not scientific knowledge in the strict sense as outlined in the first Critique, however, pragmatic antropological knowledge can be understood as a sound talk about humans, to the extent that on the basis of the principle of analogy a claim at universality and necessity is made which is pragmatically verifiable in action