Nesse artigo tento mostrar que o discurso de Sócrates no Banquete não podepor si só expressar a visão platônica do amor. Todos os discursos não filosóficos,que ali representam diferentes concepções do amor contemporâneas a Platão,devem ser considerados seriamente, e não desprezados como meros pastichesde teorias da época, introduzidos com a finalidade única de exibir asuperioridade da filosofia. Ao contrário, esses discursos parecem ter sido alicolocados como rivais verdadeiros, capazes de confr…
Read moreNesse artigo tento mostrar que o discurso de Sócrates no Banquete não podepor si só expressar a visão platônica do amor. Todos os discursos não filosóficos,que ali representam diferentes concepções do amor contemporâneas a Platão,devem ser considerados seriamente, e não desprezados como meros pastichesde teorias da época, introduzidos com a finalidade única de exibir asuperioridade da filosofia. Ao contrário, esses discursos parecem ter sido alicolocados como rivais verdadeiros, capazes de confrontar a filosofia e testar aforça de seu logos, pois, não somente seus conteúdos revelam “sabedorias”aceitas pelo senso comum, e, enquanto tais, ameaçadoras para a filosofia, comotambém sua beleza formal é extremamente sedutora para os ouvintes da época,que provavelmente antipatizavam com a frieza lógico-discursiva da filosofia.E mais: introduzir o discurso de Alcibíades logo em seguida ao austero discursoda sacerdotisa Diotima, quando o programa proposto pelos simposiastas pareciajá ter sido cumprido, seria totalmente desnecessário, se o objetivo de Platãofosse simplesmente desaprovar o comportamento de Alcibíades e desculpar asatitudes políticas de Sócrates, conforme sugere Leon Robin em sua Notice àfamosa tradução da Belles Lettres. O objetivo de Platão quando introduz essasétima personagem é, me parece, deixar clara sua insatisfação com a posiçãosocrática do amor.In this paper I argue that Socrates’ speech in Plato’s Symposium cannot expressby itself his perspective on love. All the non-philosophical speeches, eachstanding for a different contemporary view of love, should be taken intoserious consideration, for they are not mere pastiches of empty theories. Infact, they seem to have been placed there to have their intellectual strengthtested by philosophy, for not only their contents reveal commonsensicalaccepted wisdom, but their discursive beauty powerfully impresses the audience, making them true challenges to the cold, though persuasive logosof philosophy. Furthermore, placing Alcibiades’ speech right after Diotima’saustere account of love, when the program of speeches as proposed seemedto have arrived at an end, would be unnecessary, if Plato’s aim were simplyto disapprove Alcibiades’ behavior to excuse Socrates political attitudes, asit is assumed by Leon Robin in his Notice to his famous translation to theBelles Lettres edition. On the contrary, Alcibiades’ speech sounds more likea criticism of Socratic love made by Plato himself