Francisco Gaspar

O artigo pretende discutir o sentido da ciência filosófica chamada “ontologia”, a doutrina do ente nele mesmo, a partir da crítica histórico-filosófica de Nietzsche à noção de verdade: na medida em que a “vontade de verdade” coloca a si mesma em questão e se pergunta pelo valor da verdade, não é só a “morte de Deus” e da moralidade cristã que finalmente têm lugar, a ideia mesma de uma doutrina do Ser cai por terra, entrando em seu lugar o conceito de “interpretação”. Segundo essa leitura, a filosofia de Nietzsche é a um só tempo destino histórico e conceituação crítica desse destino. O artigo indica que se há uma tese ontológica na filosofia de Nietzsche — o mundo em si seria vontade de poder —, o sentido de “ontologia” aqui não é e não pode ser mais o sentido utilizado pela tradição metafísica.

At the end of the “Foundations of theoretical Knowledge”, in the second part of the first exposition of the Doctrine of Science, Fichte says: imagination “does not delude, but gives truth and the only possible truth”. Although the expression – “only possible truth” – appears in the text only once, it seems to play a key role in structuring the doctrine of science, insofar it defines Fichte’s own point of view, whether in relation to pre-Kantian metaphysics, or in relation to Kantianism. The aim of this paper is to understand the notion of the “only possible truth” and its internal relation to imagination. In order to do that we need to revisit the background discussion that leads Fichte to establish imagination as the fundamental activity of human spirit and the ground of the only possible truth. Such discussion takes place as a confrontation with the skepticism of Salomon Maimon, precisely the philosopher who says, as Fichte said, that reality is produced by the imagination, but who regards such reality to be an illusion.Am Ende der «Grundlage des theoretischen Wissens», des zweiten Teils der Darstellung der Wissenschaftslehre 1794/5, behauptet Fichte: die Einbildungskraft „täuscht... nicht, sondern sie giebt Wahrheit, und die einzige mögliche Wahrheit”. Obwohl die Bezeichnung “die einzige mögliche Wahrheit” in dieser Darstellung sonst nicht mehr vorkommt, scheint sie eine zentrale Rolle zu spielen, insofern sie Fichtes Standpunkt sowohl gegenüber der vorkantischen, als auch der Kantischen Philosophie bestimmt. In diesem Beitrag geht es darum, den Begriff von “einzig-möglicher Wahrheit” und seine innere Verbindung zur Einbildungskraft zu verstehen. Dazu ist es erforderlich, die im Hintergrund stehende philosophische Auseinandersetzung darzulegen, die Fichte zu der Auffassung führt, dass die Einbildungskraft die grundlegende Tätigkeit des menschlichen Geistes und Grund dieser einzig-möglichen Wahrheit ist. Es geht hierbei um eine Auseinandersetzung mit dem Skeptiker Salomon Maimon, der ausgehend von einer Kritik an Kants Philosophie wie Fichte sagt, dass „die Realität durch die Einbildungskraft hervorgebracht wird”, der aber im Gegensatz zur Wissenschaftslehre diese Realität als eine Tauschung betrachtet.

Es conocida la crítica de Schelling de que la doctrina de la ciencia habría aniquilado cualquier concepto de naturaleza viva, reduciéndola a un simple obstáculo que debía ser superado con miras a la realización de los fines morales de la razón. ¿Acaso tiene razón Schelling después de todo? Este artículo pretende refutar esta crítica schellinguiana, mostrando no solo que a la doctrina de la ciencia no se le puede imputar esta falta, sino que ésta deduce, a partir de una estructura propia de la razón, los dominios del saber, del saber fáctico, esto es, de la reflexión sobre sí mismo del yo, sobre todo a partir de la consideración de sus elementos kantianos: Una espontaneidad práctica y su carácter eminentemente reflexionante, algo que no fue entendido por Schelling y sus seguidores.

Ao final da “Fundação do saber teórico”, segunda parte da primeira exposição da doutrina da ciência, Fichte afirma: “a imaginação não ilude, mas dá a verdade e a única verdade possível”. Embora essa expressão de “única verdade possível” não apareça mais no decorrer desse texto, ela parece desempenhar um papel fundamental na estruturação da doutrina da ciência, delineando até mesmo o seu ponto de vista, seja em relação à metafísica pré-kantiana, seja em relação ao kantismo. O objetivo do artigo é tentar entender essa noção de “única verdade possível” e qual é a sua íntima relação com a imaginação. Para tanto, será preciso refazer a discussão de fundo que leva a Fichte a estabelecer a imaginação como atividade fundamental do espírito humano e fundamento dessa única verdade possível. Tal discussão se dá como um confronto com o ceticismo de Salomon Maimon, justamente aquele que a partir de uma crítica à filosofia de Kant também diz, assim como Fichte, que a realidade é produzida pela imaginação, mas que encara essa realidade, ao contrário da doutrina da ciência, justamente como uma ilusão.

Either God or nothing – Nihilism and transcendental Idealism. By the time of the “Atheism-Controversy” Jacobi wrote a “Letter to Fichte” in which he described the doctrine of science as Nihilism and not as Atheism. According to Jacobi, the doctrine of science would incur in to an emptiness of meaning and in to an artificial belief. Nevertheless, Fichte’s first and immediate position towards those critiques was not one of perplexity, because according to him the critiques Jacobi’s on the doctrine of science were in fact to be understood as a confusion between life and philosophy. The aim here is to discuss the distinction Fichte’s between the point of view of life and the one of the philosophy. This contribution isn’t however based only on texts that approach this distinction, but also analyses it in an illustrative way by interpreting some speculative writings of Fichte himself, specially the published exposition of his doctrine of science: the Grundlage der gesamten Wissenschaftslehre. Those texts apparently reinforce Jacobi’s position, but show in fact that Fichte is right. This way it may possible to reach a clear description of transcendental idealism, or at least as it was presented by Fichte in his Jena-period.Anlässlich des Atheismusstreits schreibt Jacobi einen Brief An Fichte, in dem er die Wissenschaftslehre nicht als Atheismus, sondern als Nihilismus darstellt. Jacobi zufolge würde die Wissenschaftslehre an eine Sinnentleerung und an einen künstlichen Glauben verfallen. Die erste und unmittelbare Stellungnahme Fichtes gegenüber diesen Kritiken ist allerdings nicht durch Betroffenheit gekennzeichnet, weil diese Kritiken Jacobis an der Wissenschaftslehre, so Fichte, sich durch eine Verwirrung zwischen Leben und Philosophie erklären lassen. Hier geht es folglich darum, diese methodologische Unterscheidung zwischen dem Standpunkt des Lebens und dem der Philosophie zur Diskussion zu stellen. Dieser Beitrag lässt sich aber nicht nur durch eine Bezugnahme auf die Texte, die sich allein mit dieser Unterscheidung auseinandersetzen, begründen, sondern auch illustrativ, d.h. durch die Bewertung einiger spekulativen Texte Fichtes, im Besonderen seine veröffentlichte Darstellung der Wissenschaftslehre: die Grundlage der gesamten Wissenschaftslehre. Solche Texte bestärken nur anscheinend Jacobis Position, deuten aber tatsächlich, dass Fichte eigentlich Recht hat. Dadurch lässt sich vielleicht eine hervortretende Beschreibung des transzendentalen Idealismus gewinnen, wenigstens wie er sich bei Fichte in der Jenaer Zeit darstellte.

O objetivo do artigo é apresentar a discussão entre Fichte e Schelling em torno do conflito entre o idealismo transcendental da doutrina-da-ciência e a filosofia-da-natureza do Identitätssystem. Buscamos compreender, de um ponto de vista fichteano, se e em que medida é possível afirmar que a doutrina-da-ciência é uma filosofia da reflexão, tal como entendida por Schelling. Para tanto, em um primeiro momento, serão expostas as críticas de Schelling a Fichte, como ele progressivamente se afasta em relação à filosofia transcendental e busca consolidar a filosofia-da-natureza. Em um segundo momento, daremos a palavra a Fichte e a seus apontamentos críticos em relação ao projeto filosófico de uma filosofia-da-natureza. Nossa análise limitar-se-á à correspondência entre os dois filósofos e aos textos escritos em torno do período de ruptura entre eles. No caso de Fichte, indo até 1804. The aim of this paper is to present the discussion between Fichte and Schelling around the conflict between the transcendental idealism of the doctrine of science and the philosophy of nature of the Identitätssystem. We seek to understand, under a Fichtean point of view, if and how far it is possible to state that the doctrine of science consists in a philosophy of reflection, such as Schelling states. For this, at first, will be exposed the Schelling’s critiques to Fichte, as the former progressively detaches himself from transcendental philosophy and consolidates a philosophy of nature. In a second moment, we will give the floor to Fichte’s critical notes related to the philosophical project of a philosophy of nature. Our analysis will be restraint to the correspondence between those two philosophers and to the texts written around this period of rupture between them. In the case of Fichte, this goes until 1804